8 de junho de 2013

Andanças por Itabaiana

Por Clênio Sierra de Alcântara





Fotos: Ernani Neves
                              


Registros históricos nos informam que foi em meados do século XVIII, provavelmente, que teve início a formação do núcleo colonial que deu origem a Itabaiana, uma cidade paraibana que dista a cerca de 79 km de João Pessoa. Sua formação está ligada aos fundamentos da Missão do Pilar, estabelecidos no local pelos padres jesuítas. Alguns chegam a apontar um certo padre Fidélis como fundador da povoação, localizada no município de Pilar.

De acordo com a Lei provincial nº 125, de 11 de outubro de 1864, foi criada a comarca de Itabaiana, inclusive com jurisdição sobre o território de Pilar. Pela Lei provincial nº 723, de 1º de outubro de 1881, o povoado foi elevado à categoria de vila, tendo recebido a denominação de Itabaiana do Pilar. Essa mesma lei suprimiu o município de Pilar, anexando o seu território ao de Itabaiana, para onde foi transferida a sede municipal. Mas, apenas quatro anos depois, em 8 de outubro de 1885, a Lei provincial nº 800 recompôs a situação: Pilar retornou à categoria de vila e município, ficando Itabaiana novamente subordinado a ele durante mais de um lustro, quando foram definitivamente restaurados a vila e o município de Itabaiana, pelo Decreto estadual nº 14, de 23 de abril de 1890. No ano seguinte, de conformidade com o Decreto estadual nº 63, de 26 de março, a vila foi elevada à condição de cidade, restaurando a primitiva denominação.





Na divisão administrativa do Brasil de 1911, Itabaiana apareceu composta do distrito de igual nome e dos de Salgado e Mogeiro de Cima; na de 1933 figura apenas o distrito da sede.

Nas divisões territoriais datadas de 31 de dezembro de 1936 e de 31 de dezembro de 1937, como também no quadro anexo ao Decreto-lei estadual nº 1.010, de 30 de março de 1938, o município apareceu assim constituído: Itabaiana, Guarita, Mogeiro e Salgado. No quadro territorial estabelecido pelo Decreto nº 1.164, de 15 de novembro de 1938, para o quinquênio 1939-1943, nenhuma alteração foi proposta; porém, a comarca apareceu dividida em dois termos – Itabaiana e Pilar, tendo este último, contudo, se tornado comarca em 1940.




O Decreto-lei estadual nº 520, de 31 de dezembro de 1943, alterou para Tabaiana o topônimo da comarca e município, o qual, durante o quinquênio 1944-1948, apresentava a seguinte constituição: Tabaiana, Aburá (ex-Salgado), Guarita e Mogeiro. Por força da Lei nº 318, de 7 de janeiro de 1949, o topônimo voltou a Itabaiana, compondo-se dos distritos da sede, Mogeiro, Guarita e Salgado de São Félix (ex-Aburá). A Lei estadual nº 996, de 17 de dezembro de 1953, criou-lhe o distrito de Campo Grande, elevando o total para cinco.




Existe uma controvérsia quanto à grafia correta do nome do município. Uns defendem que é Tabaiana, oriundo do vocábulo indígena taba-anga, que significa “morada das almas”; já outros registram que certo é o topônimo Itabaiana, também originado do tupi-guarani e resultante da fusão de ita (“pedra”) e baiana (“que dança”), alusivos a uma pedra vermelha então existente no leito (frequentemente seco) do Rio Paraíba, que corta a região, a qual, segundo se conta, balançava-se, em movimentos rotatórios, como que dançando.




Estivemos, eu e o fotógrafo Ernani Neves, visitando essa cidade no dia 15 de setembro do ano passado, no auge da campanha eleitoral. No vai e vem pelas ruas e os constantes cliques da câmera em vários pontos do espaço urbano despertaram suspeitas de que estávamos ali a mando de algum político. Quando estacionamos defronte à Loja Maçônica Duque de Caxias fomos abordados por um sujeito mal-encarado que nos seguira. Eu perguntei: “O que foi?”. E ele: “O que vocês estão fazendo aqui?”. E nós: “Conhecendo a cidade”. E antes que ele se afastasse, três mulheres, mãe e filhas, visivelmente agitadas – uma delas nos disse que o tal sujeito que estivera nos seguindo era o dono de um hotel localizado na área central da cidade –, nos abordaram querendo saber por que havíamos fotografado a fachada de suas casas, se estávamos trabalhando para algum político, etc. Procuramos acalmá-las dizendo que fazíamos viagens documentando paisagens urbanas para um blog. Devo-lhe confessar, caro leitor, que não sosseguei enquanto não saí daquele lugar – e saímos por onde entramos: pelas cercanias do cemitério municipal -, porque só fiquei pensando que algum cabo eleitoral poderia vir no nosso encalço e nos fazer mal. Contudo, esse incidente não impediu que conhecêssemos boa parte da cidade.



A primeira vez que ouvi falar em Itabaiana foi no meu tempo de criança, porque, em Abreu e Lima, eram muitos os comerciantes de carnes que viajavam para a famosa feira itabaianense para comprar porcos, bodes, bois e aves, como era o caso de Seu Déda, segundo marido de minha avó materna, e do Luís do Bode, na casa de quem diversas vezes almocei e dei lições de leitura a seu filho Edimilson.








Fui entrando em Itabaiana por um dos símbolos de seu dinamismo econômico de tempos idos: os trilhos da Rede Ferroviária do Nordeste, que a ligava à Alagoa Grande, Ingá, Pilar e à capital. Outrora um dos mais importantes entroncamentos ferroviários da Paraíba, hoje, os trens existentes ainda carregam mercadorias, mas já não fazem transporte de passageiros como em anos atrás, o que é uma pena.















A paróquia de Nossa Senhora da Conceição foi criada pelo Decreto diocesano de 2 de fevereiro de 1903, tendo sido “vigário encomendado” o Reverendo Padre Simão Phileto Patrício da Costa. No centro da cidade a Igreja-matriz de Nossa Senhora da Conceição figura como um dos principais cartões-postais. É do meu querido poeta Mauro Mota a descrição que se segue, tendo esse espaço como cenário da evocação que ele fez, querendo recriar a atmosfera na qual os seus pais, que se conheceram nessa cidade, desfrutaram, ainda no século XIX:


Olho o sobrado no ângulo da praça, que foi a primeira residência comum de ambos. Enxergo o pé de sabugeiro no quintal, cabelos soltos na varanda, sombras de gente no azulejo, sapatos vazios subindo pela escada. Tiro velhos retratos da carteira e ficam desertos nas minhas mãos. Libertam-se as figuras da prisão da fotografia, humanizam-se na juventude e na vida concluída, no cartório, no júri, na sala de visitas, no pátio da Matriz, nos domingos de missa e de retreta, nas conversas do portão cheiroso de jasmins e resedá (Mauro Mota. “Madrugada em Itabaiana”. In: Imagens do Nordeste. Os Cadernos de Cultura. Ministério da Educação e Cultura, 1961, p. 62).









Em suas memórias Paulino de Andrade nos conta da ocasião em que levou sua então esposa, que acabara de dar à luz ao segundo filho do casal, para Itabaiana a fim de que ela se recuperasse no “bom clima” do lugar:


Minha mulher, criatura de compleição franzina e delicada, esperava o segundo filho. A sua saúde inspirava-me cuidado, tanto mais quanto eu não podia cercá-la do conforto que seu estado exigia. Logo após a sua délivrance, Otávio de Freitas, nosso médico e amigo, aconselha-lhe repouso em bom clima. Fomos para Itabaiana, e lá, no alto da cidade paraibana, passamos quatro meses. Foi-lhe o clima realmente salutar. Com aumento de alguns quilos de peso, apresentava ares de boa saúde. Voltamos (Paulino de Andrade. Filho de gato... Irmãos Pongetti – Editores, 1962, p. 199).





Nas andanças por Itabaiana verifiquei que, apesar de muitos moradores terem revestido as fachadas de suas casas com azulejos, outros conservam-nas apenas pintadas, e com um colorido que realça nelas todos os detalhes decorativos.

Percorrendo parte das cercanias dessa cidade pude ver que, a exemplo de inúmeros outros municípios brasileiros, Itabaiana também apresenta suas mazelas. Os subúrbios são sempre testemunhos daquilo que de pior os maus gestores municipais podem gerar: esgoto a céu aberto, lixo em quantidade, ausência de ordenamento urbano.






Atravessei a Praça Epitácio Pessoa constatando que a Municipalidade fez um bom serviço ao padronizar os quiosques e ordená-los ao longo da via que se segue a esse espaço público.








Fui atraído por uma barraca amarela com prateleiras e mostruários de época tão parecidos com os que eu via em minha cidade natal, no meu tempo de menino. E admirei um coreto lindo na Praça Manuel Joaquim de Araújo.






De alguma maneira toda e qualquer cidade possui nem que seja um pequeno encanto para encher os olhos dos que as procuram.




























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