21 de dezembro de 2010

Meu encontro com Garanhuns

Por Clênio Sierra de Alcântara

Fotos:  Ernani Neves



Deu-me na telha de ir conhecer Garanhuns. Assim, me juntei ao meu fiel escudeiro Ernani Neves - somos mesmo uma espécie de Dom Quixote e Sancho Pança; mas um Quixote e um Pança que enfrentam bravamente ameaças bem reais -, e pegamos a estrada no último dia 11 de dezembro.

Vencer os mais de 200 km que separam o Recife de Garanhuns me deixou numa inquietação só. Parecia que não chegaríamos nunca àquele lugar. Desde criança que eu sinto que os caminhos que percorremos pela primeira vez parecem ser mais longos do que realmente são. Isso certamente se deve à expectativa e à ansiedade de logo chegar.






Assim que fomos adentrando em território garanhuense eu fiquei espantado com  o relevo acidentado. Atravessamos ruas e mais ruas num constante sobe e desce. São muitas e íngremes as ladeiras da cidade natal do grande artista Luís Jardim.











Sem perda de tempo, visto que chegamos lá pouco depois do meio-dia, procuramos um restaurante para almoçar. E fizemos nossa refeição contemplando um dos espaços que aparecem no roteiro turístico da cidade - a Praça Souto Filho, onde está instalada a chamada Fonte Luminosa-; e retornamos até lá, à noite, para conferirmos a luminosidade. Chamou-me a atenção nesse bucólico ambiente o fato de a Municipalidade ter permitido que, às margens de uma das vias que o cortam, fossem instalados vários outdoors, que acabaram por compor um feioso fundo de cenário.





Depois de nos alojarmos no Hotel Maria Eliza, que fica defronte à graciosa Praça Dom Moura, e ao lado da Esplanada Guadalajara, que está precisando passar por um sério processo de revitalização, tomamos o rumo do chamado Cristo do Magano, que fica no ponto mais elevado da cidade.






A paisagem que se avista dali é muito bonita. Pode-se observar todo o espaço que integra o município: as colinas, as reservas d'água, o verde viçoso das plantas... E a sensação de liberdade que se aspira naquele lugar é reconfortante. O senão é que não havia ali uma estrutura de recepção para o turista - pareceu-me que o prédio que estava fechado era para isso-; mas pelo menos segurança existia.






Saímos dali com destino ao centro da cidade. Eu gosto muitíssimo de percorrer as áreas centrais das cidades em busca de seus prédios mais antigos; e, também, para ver a dinâmica dos transeuntes em meio à agitação dos estabelecimentos comerciais.

Como se fosse um imenso pátio da Matriz de Santo Antônio, a Av. Santo Antônio é um pequeno mundo dentro da cidade.





O Palácio Celso Galvão, sede da Prefeitura, está instalado nessa via, que possui duas faixas de rolamento. Também o Espaço Cultural Luís Jardim, uma Igreja Presbiteriana, bancas de revista e um variado e bem ordenado conjunto de lojas. Dá gosto de ver que ali praticamente não se encontra comércio informal - o que vimos muito foram vendedores de dvd's piratas, que expõem seus produtos aqui e ali sobre as calçadas.

Caía a tarde e resolvemos tomar a direção do Santuário Mãe Rainha. No caminho passamos defronte ao descuidado estádio de futebol do município.






Era quase noite quando chegamos ao santuário. E por pouco não o encontramos fechado. O porteiro foi muito gentil ao nos deixar entrar.




Também localizado no alto de uma colina, o espaço é de uma tranquilidade imensa. A capelinha parece uma casa de bonecas. As flores dos jardins são lindamente coloridas. E dali a gente mira o horizonte e chega mesmo a pensar que aquele mundão de terra não tem fim.Veio a noite; e a frialdade começou a se impor .

Continuamos a explorar o território.

Chegamos à Praça Tavares Correia, onde está instalado o famigerado Relógio das Flores - e aqui outra vez uma indagação à Municipalidade: como se permitiu que fosse instalado nesse lugar um caixa eletrônico de banco? -, no justo momento em que pipocavam os fogos de artifício anunciando a inauguração da ornamentação natalina da praça.




Ainda ali topamos com um falante e muito entusiasmado - e entusiasmador - vendedor de gostosos pães-de-mel. Seu Djeilson era - é - uma figura bastante divertida. Fez questão de ir até o seu carro para pegar uma fotografia na qual aparecia, junto com a esposa, ao lado do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando de uma sua passagem por Caetés. É uma pena que não tenhamos fotografado o Seu Djeilson.

Após o jantar percorremos outra vez o centro comercial, antes de nos dirigirmos à Esplanada Guadalajara.






No momento em que chegávamos ao Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcanti, instalado onde outrora funcionou uma estação ferroviária, uma multidão começava a deixar suas dependências. Entrei para conhecer o prédio.

Demoramo-nos um bocadinho no pouco movimentado parque de diversões que estava instalado na esplanada. O cenário me fez evocar lembranças dos parques que frequentei, quando criança, na cidade em que nasci.








Ao retornarmos para o hotel - e eu sentia muito frio - o termômetro marcava 19º C. No dia seguinte, logo após o desjejum, saímos à procura de mais atrações.






Tanto quanto os jardins que existem em vários pontos da cidade, impressionou-me o desrespeito de parte da população para com a manutenção da limpeza dos espaços públicos. Não sei até que ponto anda a coleta de lixo por lá. Vi vários garis varrendo ruas. Mas vi, também, que, em diversos locais - imaginem que até na base do Monumento do Ipiranga, que é um ponto turístico que visitamos assim que deixamos a Igreja de São Sebastião, havia bastante lixo e resíduos provenientes de alguma reforma predial - nos quais a Municipalidade fixou placas de proibição de despejo de lixo, a população desobedecia a determinação. É uma grande lástima, porque Garanhuns perde muito com esse descaso para com o destino do lixo.







Seguindo o roteiro turístico - e eu devo-lhes dizer, caros leitores, que, muito embora tenhamos passado mais de uma vez no entorno do Parque Euclides Dourado, não tive a mínima vontade de entrar nele, porque considerei de grande mau gosto um parque repleto apenas de eucaliptos, que, além de proporcionarem quase nenhuma sombra, não atraem muitas aves, uma vez que são árvores que não dão frutos - fomos conhecer o povoado do Castainho, na zona rural, e que, segundo a descrição do mapa turístico, trata-se de uma comunidade remanescente de quilombolas.








Fiquei assombrado diante da pobreza do lugar. A sensação que tive foi de que aquilo lá é uma comunidade completamente esquecida - completamente não, porque está no mapa das atrações para o turista ver - por parte da Municipalidade. Tudo ali é tristemente feio. A casa de farinha, um dos poucos prédios pintados, estava fechada. A edificação que funciona como uma igrejinha - a Igreja do Sagrado Coração de Jesus - é de um aspecto desolador.  O povoado do Castainho foi, para mim, a passagem mais tristonha de toda a viagem.





Saindo dali fomos nos refugiar no quase tranquilo - quase porque havia ali um bar que, de modo muito inconveniente, punha o som nas alturas - Parque Ruber van der Linden (antigo Parque Pau Pombo), que é um pequeno jardim botânico instalado bastante próximo à movimentada Av. Santo Antônio. Conversamos com Ananias, um vendedor de plantas; e adquirimos mudas de hortências, uma das flores preferidas de minha Avó Conceição.












Retornamos ao hotel para pegarmos a nossa bagagem. Almoçamos. E, antes de deixarmos a cidade, fomos conhecer o tão falado Castelo de João Capão.




Chegando ao lugar me vi novamente tomado pelo sentimento de frustração, porque a atração, que é uma residência - e uma residência bem bagunçada, diga-se de passagem -, não tem estrutura adequada e satisfatória para receber turistas.






Conversei com a Selma, que é filha do eletricista João Capão; e ouvi dela muitos lamentos pelo fato de o pai não conseguir incentivo algum para incrementar o espaço, nem mesmo da Prefeitura que, no entanto, o inclui no roteiro turístico.









Comentei que acreditava que todo visitante que ali chegava ficava decepcionado com o que encontrava; e que aquilo precisava ser melhorado.





Deixei Garanhuns - a "Cidade das Flores" - carregando em mim um turbilhão de sentimentos ambíguos  com relação a várias das coisas que eu encontrei nela.







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