8 de agosto de 2010

Viva Mauro Mota!

Por Clênio Sierra de Alcântara

"Dava adeus a si mesmo
na ponte, sobre o cais.
A cada hora, partia-se
para não voltar mais"


Passaporte, do livro Canto ao meio



Fotos: Ernani Neves





Na primeira visita que fiz à cidade de Nazaré da Mata, no ano passado, fui tomado por uma ânsia enorme de conhecer o espaço cultural que recebe o nome de um seu "filho" ilustre: o geógrafo, o poeta, o jornalista, o escritor, o grande Mauro Mota. Para mim, que sou ligado ao seu universo desde que à minha biblioteca chegaram Capitao de fandango e Os epitáfios - e tantos outros chegariam, como O pátio vermelho, Modas e modos, etc., alguns deles até autografados pelo mestre - conhecer aquele espaço seria, eu imaginava, um mergulho em seu mundo por uma outra via que não a literária. Mas, como sempre acontece com aqueles que nutrem grandes expectativas, me vi um tanto quanto frustrado quando lá cheguei.



Imagem: internet


Instalado num prédio onde outrora funcionou o matadouro municipal, o Espaço Cultural Mauro Mota, afora o bonito painel que celebra a figura do ilustre pernambucano na fachada do edifício, não exibe - ou pelo menos não exibia quando lá estive - qualquer outro material que celebre a figura e a produção intelectual do autor de Terra e gente. Eu, que esperava que lá fosse encontrar fotografias, condecorações e até manuscritos, não vi sequer exposição de edições de suas obras. E o leitor há de concordar comigo que isso foi bastante lamentável.


 



O desapontamento só não foi maior porque fui recebido naquele lugar por uma criatura maravilhosa chamada Maria José que, apesar de me expor uma série de lamentações por ficar o espaço cultural à mercê do gosto dos prefeitos - uma administração dá atenção ao espaço, enquanto outra o ignora quase que completamente, o que por si só diz muito do quanto sofrem por esse país afora entidades culturais que não têm autonomia financeira e que, por isso, dependem da boa vontade de políticos para funcionar a contento -, mostrou-se confiante de que coisas boas estavam por vir - sem perda de tempo tratamos logo de iniciarmos naquele instante um abaixo-assinado a ser entregue ao chefe do executivo municipal, recentemente empossado, reivindicando a retirada do amontoado absurdo de barracas da praça que fica ao lado da imponente igreja matriz -; e, com um entusiasmo contagiante, conduziu-me pelas dependências do centro e exibiu as vestes do caboclo de lança e do fandango - eu cheguei mesmo a vesti-las para tirar fotos - que estavam ali expostas, por estar-se na Semana do Folclore e à espera dos estudantes que iriam visitar o espaço por aqueles dias.


 


Tenho um amigo muito querido - e ele me acompanhava nesse dia da visita - que diz que eu espero demais dos órgãos públicos que lidam com a cultura. Não é que eu espere demais. É que eu creio que não são necessárias quantias vultosas de dinheiro para se manter adequadamente certos espaços culturais - não todos, claro, um museu, uma grande biblioteca, um departamento de documentação requerem sim, volume considerável de recursos financeiros para se manterem adequada e satisfatoriamente. Deparo-me constantemente é com a falta de tino para gerir entidades como essas. Muitas vezes as coisas são montadas sem critérios de organização e sem sequer um plano museológico e de preservação do acervo; enfim, tudo resvalando para um jeitinho capenga e mambembe de conduzi-las.





É inegável que o escritor de O cajueiro nordestino merece algo muito maior do que aquele espaço com o qual se pretendeu homenageá-lo.O recifense Mauro Mota, que atravessou o tempo encantado da infância em Nazaré da Mata, pertence ao mesmo panteão no qual estão Ascenso Ferreira, Gilberto Freyre, Manuel Bandeira, Joaquim Cardozo, Hermilo Borba Filho, Mário Melo, Valdemar de Oliveira, João Cabral de Melo Neto, Carlos Pena Filho, Mario Sette, José Antônio Gonsalves de Mello, Osman Lins, Manuel Correia de Andrade, Joaquim Nabuco... intelectuais que, de certa maneira, cada um a seu modo, reuniram o amálgama dessa riqueza cultural da qual os pernambucanos tanto nos orgulhamos.
Viva Mauro Mota!


                                                    veja o vídeo de Nazaré da Mata e do Espaço Cultural Mauro Mota

2 comentários:

  1. FIQUEI MUITO FELIZ EM CONHECÊ-LO CLÊNIO SIERRA DE ALCÂNTARA ! UMA ALEGRIA IMENSA CONHECER SEU TRABALHO ...PARABÉNS! SIGA FIRME OS PASSO DA SUA VIDA POIS TEM MUITAS HISTORIAS A ESCREVER!UM ABRAÇO DESTA AMIGA PINTORA RENILDA LOPES

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  2. Querida, muito obrigado por tudo: por sua gentileza, por ter aberto sua casa para os amigos do seu marido, pela comida gostosa, pela sua simpatia e talento, enfim, por tudo de bom que a atmosfera de sua casa me proporcionou.

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